segunda-feira, 25 de junho de 2012

Eu tento....

Eu tento manter uma rotina nesse blog... mas minha vida não é rotineira... por mais que eu tenha horários e trabalho e aula... as coisas são cada dia diferentes uma das outras....
E tenho me comunicado mais no silêncio e nas imagens do que nas palavras.... o mundo tem sido tão dinâmico, diverso, rápido que não consigo mais falar... estou em uma afasia positiva... talvez... cheia de vazios coloridos para serem preenchidos... as fotos tem me suprido a necessidade de falar... a tentativa de captar na imagem o que quero dizer (de maneira auto-didata, com uma câmera bem limitada) tem me suprido e me trazido um tesão em dizer...
Ouvir tem sido rico... e o não dizer vem da contemplação... do mar de palavras boiando na minha cabeça do qual deixo bater e voltar... sem querer pescar nenhuma....

Cabeça, tronco e membros
Foto: Nara Marques

quarta-feira, 14 de março de 2012

Assumindo esquizofrenia conjuturossocial (?)


NUNCA É TARDE, SEMPRE É TARDE
(Silvio Fiorani)

Conseguiu aprontar-se
mas não teve tempo de guardar o material de maquiagem espalhado sobre a penteadeira. Olhou-se no espelho. Nem bonita, nem feia. Secretária. Sou uma secretária, pensou, procurando conscientizar-se. Não devo ser, no trabalho, nem bonita, nem feia. Devo me pintar, vestir-me bem, mas sem exagero. Beleza mesmo é pra fim-de-semana. Nem bonita, nem feia, disse consigo mesma. Concluiu que não havia tempo nem para o café. Cruzou a sala e o hall em disparada, na direção da porta de saída, ao mesmo tempo em que gritava para a mãe envolvida pelos vapores da cozinha, eu como alguma coisa mesmo. Sempre tal alguém com alguma bolachinha disponível. Café nunca falta. A mãe reclamou mais uma vez. Você acaba doente, Su. Assim não pode. Assim, não. Su, enlouquecida pela pressa, nada ouviu. Poucas vezes ouvia o que a mãe lhe dizia. Louca de pressa, ia sair, avançou a mão para a maçaneta da porta e assustou-se. A campainha tocou naquele exato momento. Quem haveria de ser àquela hora? A campainha era insistente. Algum dedo nervosos apertava-a sem tréguas. A campainha. Su acordou finalmente com o tilintar vibrante do despertar Westclox e se deu conta de que sequer havia se levantado. Raios. Tudo por fazer. Mesmo que acordasse em tempo, tinha sempre que correr, correr. Tinha tudo cronometrado, desde o levantar-se até o retoque do batom e o perfumezinho final. Exploit da Atkinsons. Perfume quente. Mais ou menos quente. Esqueceu onde havia deixado o relógio de pulso . Perambulou nervosamente pela casa procurando-o. Atrasou alguns preciosos minutos. A mãe achou-o sobre a mesinha do telefone. Su colocou-o no pulso. Viu as horas. Havia conseguido aprontar-se, mas não teve tempo de guardar o material de maquiagem espalhado sobre a penteadeira. Olhou-se no espelho. Nem bonita, nem feia, pensou duas vezes. Vou ficar bonita mesmo no sábado. Não havia tempo nem para o café. Cruzou em disparada a sala e o hall, em direção à porta de saída, ao mesmo tempo em que gritava para a mãe, bolachinha disponível. Avançou a mão para a fechadura e assustou-se com o toque insistente da campainha. Algum dedo nervoso. O Westclox. Su acordou e deu-se conta mais uma vez da trágica e permanente verdade de que ainda não estava pronta(!) Levantou-se de um ímpeto. Correu ao banheiro, voltou do banheiro, vestiu-se com a roupa estrategicamente deixada sobre a cadeira na noite anterior. Ao sentar-se mais uma vez frente ao espelho, notou que, embora não tivesse ainda se pintado, o material de maquiagem estava espalhado sobre a penteadeira. O batom aberto e usado, o Exploit desastradamente destampado, evaporando. O despertador tocou novamente. Ou tocou finalmente. E estava com toda corda, pois demorou a silenciar. Mesmo assim, Su andou pela casa toda, tentando desesperadamente acordar-se. Ocorreu afinal a idéia de pedir ajuda à mãe. Esta, envolvida pelos vapores da cozinha, mostrou-se compreensiva. Está bem, Su. Espere um instantinho que eu vou no quarto te acordar.

Foto de Nara Marques


sexta-feira, 9 de março de 2012

"De como virei bruta flor..."

Foto: Nara Marques
A borboleta quer a flor?
Ou a flor quer a borboleta?
Ou a borboleta é a flor e a flor, borboleta?
(Nara Marques)


Excertos que ecoam... o íntimo exposto com nome de peça de teatro:

"Totem de amor"
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"Queria que você sentisse a culpa de ter tido a coragem de ter feito isso comigo."
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"... foi como foi..."
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"Não negocio mais."
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"De como virei bruta flor."


"Ah bruta flor do querer..."



quarta-feira, 7 de março de 2012

"Meu coração está espantado"



No fundo é medo
Um medo enrustido
Medo da vida
Medo da saudade que dói
Medo da solidão...
(tão )
Medo de explodir
(ou implodir)
Medo do sensível demais em mim
Medo do gostar novamente
Medo de ninguém entender
Medo da afasia, da melancolia
Da rima barata
Medo de (não) conseguir
Medo porque alguns se foram e outros também irão
Medo dos que se foram sem ir
Medo da morte do vínculo social
Medo de admitir que é tudo uma grande mentira o que eu prego
Medo de me convencer de minhas mentiras
Medo de desistir, de insistir
Meu panis et circensis tem receita
(Pela manha e para dormir)
Equilibro quimicamente minha existência
Meu corpo compõe a conjuntura do meu estar sendo
É um elemento (mais um)
É poeira do cosmos
Medo da teoria do caos: do adensamento total resulta ou queda infinita ou a expansão do big-bang
("Nada como um sorriso burro e paranoico...")
Virar
Virar estrela
(Ela sabe o que está fazendo)

Nara Marques 24/10/11

"Aceitar-me plenamente? É uma violentação de minha vida. 

Cada mudança, cada projeto novo causa espanto:meu coração está espantado. 

É por isso que toda minha palavra tem um coração onde circula sangue" 
(Um sopro de vida)"
Clarice Lispector