quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sinestesia numa tarde com vinho...

Não, eu não combinava com suas paredes brancas.
Com suas cores brancas.
Com seu preconceito branco.
Com seu machismo feminino.
Com seu status branco.
Guardo em mim um discurso igual.
Guardo seu medo infantil.
Um cheiro de sabão em pó.
Sua imagem branca junto a parece branca.
Um gosto verde.
Um ego contemplado.
Uma sensação de usado.
Nada que altere meus dias e minha vida.
Não guardo nada de importante.
É seu o medo.
É sua a dor da existência (que é tão simples, é existir e contemplar).
É seu o silêncio.
É sua solidão.
É seu o branco.
Parafraseando: 'Bartleby se encontrava voltado a parede branca do escritório. Aquilo era um ato quase que político que dizia não quero nada disso (aponta para trás, a atriz), quero isso que é nada.' (Denise Stoklos)

Eu preferi não.
Sou muito marrom.

Nara Marques 23/11/11


"Se eu pudesse parar os elementos
Se eu pudesse trazer paz ao mau tempo
Mas eu não posso
Não devo
Não quero
Tempestade"


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Da descrença

Foto de Nara Marques
Graduação em Niilismo



Niilismo pelo dicionário Aurélio: Redução ao nada, aniquilamento. 2-Descrença absoluta. 3-Filos. Doutrina segundo a qual nada existe de absoluto. 4 Et. Doutrina segundo a qual nãoverdade moral nem hierarquia de valores.

Análise rudimentar com escasso embasamento filosófico (auto-filosofia) sobre a trajetória da ignorância religiosa passando pelo agnosticismo, alcançando a luz do ateísmo e findando no niilismo (podendo ser este obsessivo ou simplesmente se limitar ao “achismo teórico”), sendo tal, independente da forma, um grau desesperador da descrença em geral.
Toda descrença não se limitando ao famosodeuscomeça com um questionamento, pois se há um questionamento sobre uma “pseudo” verdade postulada é porque esta não cabe a qualquer situação vivencial, não se enquadra às questões de existência. Em resumo: se com o questionamento não suprirmos as tais questões existenciais e se ainda houver um sentimento de revolta e vergonha por respostas malfadadas, o homem dá o primeiro passo para sair da caverna; seu pescoço mexe em várias direções e as sombras não são mais suficientes para entender/explicar o que ele é, seu nicho, seu habitat.
O homem não mais sentido em culpar o curso do mundo e de sua vida a algo inexplicável e imensuravelmente “superior” (?). Um sentimento de ignorância e covardia: se não se pode com tal situação a culpa é da metafísica superior que, apesar de ser a representação do bem supremo, trabalha com o método arcaico de ‘sofrer para entenderseu lugar no universo. O calvário existencial para uma eternidade de glória, amor e anjos saltitantes que ninguém sabe se existe.
O paradoxo da metafísica: um deus bondosamente terrível; uma vela para velar.
Tais pensamentos adicionados à educação religiosa trazem um sentimento, a princípio, do medo de negar essa pseudoverdade generalizada, até mesmo porque com ela a responsabilidade não é totalmente humana: deus quis assim! (reparte-se a culpa, a dor, as alegrias, os medos etc).
Vai que realmente existe um Além, além da vida e com tais pensamentos pecaminosos pararei no último e mais vingativo anel do limbo ou, para usar um trocadilho, um pouco mais além (sacou, além...) onde eu vire uma árvore eternamente em chamas numa areia movediça que não chega ao fim, como um buraco negro. Ou pior, se meu castigo for me tornar eternamente uma cabeça pensante (que merda) e Dante não consiga me salvar?
O medo é normal, porém não suplanta o questionamento e assim chega-se ao agnosticismo, que se pode definir: se existe... pode existir, ou não, não sei. Não aprovo, não comprovo, nem desaprovo e não acredito, mas não desacredito.
Missas, velas, novenas, sessões de descarrego, terapia do amor.
Resumindo: não sei, pode ser que sim, pode ser que não.
Pronto, se está desamarrado. Até então, em momentos de fraqueza ainda havia recaída mas logo se verá que de nada adiantará.
Da crença ao medo e ao agnosticismo vão-se anos, é um processo que exige vivência, teoria, filosofia, retirada de rótulos sócias internalizados, porém de agnóstico ao ateu é bem mais rápido, pois nãopara viver sem se decidir.
Tal é o momento: vi, tenho que me posicionar, então... Agnóstico é um crente em cima do muro, quase descrente mas que ainda guarda uma insegurança. Então se admite um ateísmo de contrato, para não admiti-lo por si .
O ateísmo é o estágio do desprendimento total do seu ser metafísico. Não, você não VIRA SATÂNICO, pois é necessário para a existência de um demônio, crer na existência de deus. Assim funciona o maniqueísmo, não existe sem uma das partes, é a eterna luta do bem contra o mal.
Esse é o equilíbrio terreno: nem tudo é absolutamente ruim nem absolutamente bom, logo não é necessário acreditar em forças extremamente maiores regendo a vida de cada um, e culpá-las tanto pela glória quanto pela desgraça de alguém.
Não há o absoluto, o universo se rege por suas próprias leis. Não foi criado, existe. Então nãocomo contestar tal situação. Não há o design inteligente.
A única coisa crível é o existir. Existimos (e isso se limita a nós mesmos). Se existisse um deus, como disse Einstein, logicamente ele não jogaria com a Terra (nem dados, nem xadrez, nem nada...)
A vida se rege também por si . Leis da selva, leis naturais e a eternidade se resume a continuação de sua vida, através de herdeiros que levam consigo parte de você com mais outra parte de alguématé então estranhomas que também faz parte de você.
O ateísmo te tira da caverna. Não há o mal supremo, pois nãocomo ter o bem supremo. O quesão coisas erradas, mal administradas, pessoas erradas, (erros passíveis de discussão, pois como generalizar o que é erro?), sistemas errados que não condizem com as leis naturais e universais de existência. Alcança-se com tais devaneios um equilíbrio menos insano do que aquele com uma hierarquia divina passível de temor, alcança-se, talvez, até uma segurança de que a vida se resume a viver, cada dia, de cada vez, sem pensar no céu ou no limbo e similares, pois nãoindícios de tais lugares. O querealmente, por enquanto, é a terra, a lua, o sol, estrelas (essas também não há, o quesão reminiscências de sua explosão, resto de luz pelo espaço, olhem ... há espaço, há vácuo e o universo visível).
É ai que entra o niilismo: existem coisas, estas não são aniquiladas, é necessário a moral universal e natural para a concessão da ordem. Há objetivos para uma vida existencialista: para que parte de você veja o que é o mundo, para que o mundo veja o que você é e foi. Ser, estar, permanecer, ficar (verbos de ligação). É verdade que não é necessário uma hierarquia de valores e sim o mantimento da ordem natural.
O niilismo é um estágio pós-ateísmo, com tal visão geralmente a existência perde o sentido. Vê-se que as leis do universo não são respeitadas e sentidas. Uma afasia, apatia, toma o corpo. Um sentir nada... o universo é belo, as pessoas que não são.
O niilismo é o ponto do nada. Isso pode gerar conseqüências irreparáveis como a supressão da existência (própria ao dos outros) – no limite.
Nesse estágio nada que é humano surpreende mais. ¬¬

Assim tem-se um breve resumo dos caminhos da descrença metafísica (nem sempre são esses) e o encaminhamento para o crível da eternidade fisicamente limitada existencialista, num reconhecimento de que são os homens os únicos responsáveis por suas vidas, logicamente cerceado por coincidências, acasos, oportunismos, acidentes, (im)probabilidades infinitas – que não é culpa nem de Deus nem de seus Diabos. Isso torna a vida viva, assim como a própria vida pe uma acidente causado por montículos de moléculas orgânicas que se explodiram em nós.

Nara Marques
Novembro de  2006


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A mesma melancolia... em 24/10/11

Foto de Nara Marques
"...quase de lâmina, há de haver no espaço outra igual..."



Ora, não vale a pena chorar assim!”, disse ela para consigo, com bastante severidade. “Vamos mas é calar-nos ”. Ela, geralmente, dava muito bons conselhos a si própria (apesar de muito raramente os seguir) e às vezes autocensurava-se com tanta dureza que lhe vinham as lágrimas ao olhos; e lembrou-se até daquela vez em que tentara puxar as orelhas a si própria por ter feito batota num jogo de críquete que ele estava a jogar sozinha contra ela própria, pois esta estranha criança gostava muito de fingir ser duas pessoas,

Quem me dera não ter chorado tanto!”, disse, enquanto nadava de um lado para o outro, tentando descobrir uma saída. “Vou ser castigada por isso, acho eu, morrendo afogada nas minhas próprias lagrimas! Vai ser uma coisa muito estranha, com certeza! Mas hoje está tudo tão estranho!”.

(Lewis Carrol)

domingo, 9 de outubro de 2011

A mesma melancolia...

"O mesmo sorriso
A mesma melancolia



O mesmo desprezo
A mesma ironia



A mesma incerteza
A mesma melancolia



O mesmo sorriso
A mesma fisionomia"

(Lira)


Foto Nara Marques
"Eu não vi, não sei se sei"

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Perplexidade - Penso enquanto converso:

Ofélia (recorte)
Artista J. E.Millais

"Debaixo d'água se formando como um feto
Sereno, confortável, amado, completo
Sem chão, sem teto, sem contato com o ar
Mas tinha que respirar
Todo dia"
(Arnaldo Antunes)

"Pior que a morte física é a morte do vínculo social
que é uma morte viva."
Dos vivos, feita por eles.
...uma morte antes da morte física...

Cada vez mais jovem

("Era só uma menina")


Em 16/04/10

domingo, 28 de agosto de 2011

Penso em uma aula de Interpretação

Foto Nara Marques - Arte Ivi

O ator é aquele que literalmente (talvez o único) estuda pra ser alguém.

Foto Nara Marques - Arte Ivi

domingo, 21 de agosto de 2011

Encontro...

Foto Nara Marx
Encontrei os ipês amarelos que me perguntou.
Encontrei vários, vários, de um amarelo lindo, que quase nos ludibriava da falta de sol naquela tarde.
Quase que era o sol ou vários sóis.
(Faltava só uma flor)
Eram vários ipês amarelos, mas eles estavam dentro dos limites da cerca da penitenciária daquela cidade.
Isso me disse muita coisa.
Mas eu achei os ipês amarelos que me perguntou.

Nara Marques

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

...um pote II... penso em 15/08/11

Foto Nara Marx - 2006



Quem é você? Quem sou eu? 
Sei apenas que navegamos no mesmo barco furado
(CFA)

... e não adianta me culpar pelo furo. Eu que não ando de salto - chinelos velhos, já gastos - não tenho lá muito peso apesar de ter engordado um pouco. eu que não uso bengala. Eu que não sei dessas águas, são vastas, das pedras que podem ter furado o barco. Eu não sei.
Não sei se entrei já estava assim ou se ficou assim, mas não posso mexer no que foi... sei que estou aqui, no barco.
De nada vai adiantar procurar um responsável pelo furo. De nada vai adiantar relegar a mim o furo, eu só estou no barco, de passagem e coincidentemente as pessoas se conhecem, não sei bem porquê.
A água entra, entra, entra e toma o barco, a busca de um culpado pelo furo não tapa o furo e não baixa a água.
Ou você pega aquele balde e começa a jogar a água pra fora, como todos aqui, ou deixa encher e te engolir já que não acha-se (ou se acha) o responsável pelo furo. O que de fato é bem mais fácil, culpar alguém pelas mazelas do mundo.
O mais engraçado é que é o nosso mundo, nós o fazemos e as mazelas nunca são nossas...
Mas enfim sei que "Debaixo d'água tudo era mais bonito, Mais azul, mais colorido", mas não se esqueça que tem que respirar, todo dia.
Sem respirar ninguém fica.
Ou fica...
Mas eu não fico... (eu tenho um balde)


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma madruga, um resgate...


Foto de Nara Marx
Cada um doa o que pode



Poema da necessidade
Carlos Drummond de Andrade

É
preciso casar João,
é
preciso suportar, Antônio,
é
preciso odiar Melquíades
é
preciso substituir nós todos.
É
preciso salvar o país,
é
preciso crer em Deus,
é
preciso pagar as dívidas,
é
preciso comprar um rádio,
é
preciso esquecer fulana.
É
preciso estudar volapuque,
é
preciso estar sempre bêbado,
é
preciso ler Baudelaire,
é
preciso colher as flores
de
que rezam velhos autores.
É
preciso viver com os homens
é
preciso não assassiná-los,
é
preciso ter mãos pálidas
e
anunciar O FIM DO MUNDO

POEMA DA NARACESSIDADE
(
com participação especial de Carlos Drummond de Andrade)

É
preciso casar
É
preciso suportar
Odiar
É
preciso substituir nós todos
É
preciso salvar o país e crer em deus
É
preciso pagar as dívidas para comprar um rádio
É
preciso esquecer (ou fingi-lo)
É
preciso estudar (para quê?)
É
preciso estar sempre bêbado
É
preciso ler
É
preciso plantar e (talvez) colher flores
de
que os autores falsos e mentirosos não rezam e nem colheram
É
preciso viver com os homens (sentido genérico)
Embora não tenha escolhido tal
E,
então, por educação e (auto) preservação
É
preciso não assassiná-los
É
preciso ter mãos, boca, força
É
preciso logo, que se anuncie o fim do mundo
É
preciso e preferível estar louco

(Idos de 2002???)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

... um pote... (Penso ao ver um clip)


Perguntei a uma amiga... e os amores?
Ela disse: não tenho nenhum.
E eu repliquei: bom assim você não gasta tempo e energia
Ela: não é bom não. Você acaba ficando insensível
Pensei: não só assim você fica insensível.

http://www.youtube.com/watch?v=BBAJwjB0dY0&feature=player_embedded


(Será que sei ainda?)

sábado, 23 de julho de 2011

O suicida ou o trapezista

Foto de Nara Marx - Pontilhão da Av. Barroso
"Mas não tente se matar, pelo menos essa noite não
Essa noite não..."
Lobão

"...me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre. "


Antônio Bivar

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Ouço La vie quotidienne e penso...

Foto de Nara Marx
"... e a vida insiste em nascer"




Comentário em 07/05/09 (de um dos meus veladores fiéis): E hoje, dos meus cadáveres, eu sou o mais desnudo, o que não tem mais nada...mas a luz do morto não se apaga nunca!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Yo soy la desintegración... Uma carta para ninguém...

Página do Diário de Frida Kahlo
"Mas eternamente é palavra muito dura: tem um "t" granítico no meio. Eternidade: pois tudo o que é nunca começou. Minha pequena cabeça tão limitada estala ao pensar em alguma coisa que não começa e não termina - porque assim é o eterno. Felizmente esse sentimento dura pouco porque eu não aguento que demore e se permanecesse levaria ao desvario. Mas a cabeça também estala ao imaginar o contrário: alguma coisa que tivesse começado - pois onde começaria? E que terminasse - mas o que viria depois de terminar? Como vês, é-me impossível aprofundar e apossar-me da vida, ela é aérea, é o meu leve hálito. Mas bem sei o que quero aqui: quero o inconcluso. Quero a profunda desordem orgânica que no entanto dá a pressentir uma ordem subjacente. A grande potência da potencialidade (...)."
Trecho de  "Água Viva" Clarice Lispector (flor de lis no peito)

Desculpe não vou responder a vc referente ao que escreveu. Assim como vc tem seus tempos e seus processos tb tenho os meus embora as pessoas não entendam, não respeitem por vezes e acham que eu, por (in)felizmente ter comigo essa sina de tronco, esse coração besta que quer ajudar, eu não preciso de ajuda, tenho as respostas do mundo e tenho que estar sempre disponível (sim, estou cansada, desencantada sim, não com o mundo, o mundo é bonito!). 
Mais uma vez estou morta e preciso de silencio em minha morte, silencio meu. Ouço, vejo, escuto as pessoas, não quero elas longe, não quero todas perto também (porém as pessoas não entendem muito bem esse momento meu e e se afastam de mim, não as culpo, pq nem eu entendo muito bem quem quero comigo, mas tenho alguns veladores fiéis que me acompanharam em diversos ciclos dessa minha vida de Ouroboro). 
Jaja renasço e esse silêncio é porque tudo em cada morte-nascimento é novo, é lindo e inconcebível, estranho e igual, humano... e como tudo que é humano, não me surpreende e me surpreende ao mesmo tempo.
Não estou triste, não estou brava, talvez num estado de sensibilidade extrema e aflorada onde tudo me toca como se fosse a primeira vez. E choro... chorar limpa os olhos... e limpa a alma.
Num momento de reequilibrio interno, de limpeza em vários sentidos... de ver quem e o que está comigo, quem e o que não está comigo.
Adoro esse oportunidade que me deram de ser uma eterna bricolagem, de sempre pegar os meus cacos e fazer ser, essa capacidade dolorosa de regeneração e de apesar dos milhares machucados e mágoas eu conseguir renascer.
Mas vezes acho quesempre um desconto em cada renascer que cada vez mais me aproxima do niilismo... mas não sei preciso pensar sobre isso.
Sim estou com saúde, sim de bom humor (um sério bom humor como me é característico) sim, de boa vontade.
Talvez tudo isso porque ainda não encontrei o que procuro  e a busca é interessante... não sei se realmente alguém encontrou o que procura.
(So, no alarms and no surprises, silent...)
Ipês rosa florescem (nossas cerejeiras em flor), pássaros vem e vão.
O inverno aqui não é rigoroso!