Foto de Nara Marques Graduação em Niilismo |
O homem não vê mais sentido em culpar o curso do mundo e de sua vida a algo inexplicável e imensuravelmente “superior ” (?). Um sentimento de ignorância e covardia : se não se pode com tal situação a culpa é da metafísica superior que , apesar de ser a representação do bem supremo , trabalha com o método arcaico de ‘sofrer para entender ’ seu lugar no universo . O calvário existencial para uma eternidade de glória , amor e anjos saltitantes que ninguém sabe se existe.
O paradoxo da metafísica : um deus bondosamente terrível ; uma vela para velar .
Vai que realmente existe um Além , além da vida e com tais pensamentos pecaminosos pararei no último e mais vingativo anel do limbo ou , para usar um trocadilho , um pouco mais além (sacou, além ...) onde eu vire uma árvore eternamente em chamas numa areia movediça que não chega ao fim , como um buraco negro . Ou pior , se meu castigo for me tornar eternamente uma cabeça pensante (que merda) e Dante não consiga me salvar ?
O medo é normal , porém não suplanta o questionamento e assim chega-se ao agnosticismo , que se pode definir : se existe... pode existir , ou não , não sei. Não aprovo, não comprovo, nem desaprovo e não acredito, mas não desacredito.
Resumindo: não sei, pode ser que sim , pode ser que não .
Da crença ao medo e ao agnosticismo vão-se anos , é um processo que exige vivência , teoria , filosofia , retirada de rótulos sócias internalizados, porém de agnóstico ao ateu é bem mais rápido , pois não dá para viver sem se decidir .
O ateísmo é o estágio do desprendimento total do seu ser metafísico . Não , você não VIRA SATÂNICO , pois é necessário para a existência de um demônio , crer na existência de deus . Assim funciona o maniqueísmo, não existe sem uma das partes , é a eterna luta do bem contra o mal .
A única coisa crível é o existir . Existimos (e isso se limita a nós mesmos ). Se existisse um deus , como disse Einstein, logicamente ele não jogaria com a Terra (nem dados , nem xadrez , nem nada ...)
A vida se rege também por si só . Leis da selva , leis naturais e a eternidade se resume a continuação de sua vida , através de herdeiros que levam consigo parte de você com mais outra parte de alguém – até então estranho – mas que também faz parte de você .
O ateísmo te tira da caverna . Não há o mal supremo , pois não há como ter o bem supremo . O que há são coisas erradas, mal administradas, pessoas erradas, (erros passíveis de discussão , pois como generalizar o que é erro ?), sistemas errados que não condizem com as leis naturais e universais de existência . Alcança-se com tais devaneios um equilíbrio menos insano do que aquele com uma hierarquia divina passível de temor , alcança-se, talvez , até uma segurança de que a vida se resume a viver , cada dia , de cada vez , sem pensar no céu ou no limbo e similares , pois não há indícios de tais lugares . O que há realmente , por enquanto , é a terra , a lua , o sol , estrelas (essas também não há, o que há são reminiscências de sua explosão , resto de luz pelo espaço , olhem só ... há espaço , há vácuo e o universo visível ).
É ai que entra o niilismo : existem coisas , estas não são aniquiladas, é necessário a moral universal e natural para a concessão da ordem . Há objetivos para uma vida existencialista : para que parte de você veja o que é o mundo , para que o mundo veja o que você é e foi. Ser , estar , permanecer , ficar (verbos de ligação ). É verdade que não é necessário uma hierarquia de valores e sim o mantimento da ordem natural .
O niilismo é um estágio pós-ateísmo, com tal visão geralmente a existência perde o sentido . Vê-se que as leis do universo não são respeitadas e sentidas. Uma afasia , apatia , toma o corpo . Um sentir nada ... o universo é belo , as pessoas que não são .
O niilismo é o ponto do nada . Isso pode gerar conseqüências irreparáveis como a supressão da existência (própria ao dos outros ) – no limite .
Nesse estágio nada que é humano surpreende mais . ¬¬
Nara Marques
Novembro de 2006
boa imagem, bom texto e boa música!
ResponderExcluir"Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas e gnomos nele?" R. Dawkins