sexta-feira, 6 de maio de 2011

Programação cultural III CONCLADIN

Espetáculo: “Dança do Fogo”
Duração: 5 minutos
Direção: Roberto Marcondes.

Uma das maiores conquistas do homem remonta aos hominídeos africanos: o controle do fogo. Com ele, passou-se a não temer mais o frio, as assombrações da noite e os animais que ameaçavam os primeiros homens. No corpo, altera-se o processo digestivo. O conforto que provém do fogo aumenta a segurança e resulta num ser sedentário que dorme e passa a sonhar.
O fogo encerra em si o paradoxo: fascina e amedronta. É o passado remoto e a modernidade sugerida pelas máquinas e motores a combustão. Seu domínio trouxe o sonho e a destruição. Fogo e homem enquanto sobrevivência como fruto dessa relação nem sempre amistosa, em que a dor reside no descontrole de um dos lados.
A indústria da humanidade surgiu e se nutriu das chamas de calor enseadas da Mãe África. Advém do continente africano, há cinco mil anos: da extração do óleo de citronela foi “descoberto” o querosene utilizado como combustível que acendeu as primeiras formas de lamparinas.
A “Dança do Fogo” de Roberto Marcondes é intervenção que traz essa parte da história de uma África velada. Quase sempre, a Europa é representada como o epicentro das revoluções mais importantes para toda a humanidade, a Industrial inclusive. No entanto, tal como o pioneirismo na produção de meios combustíveis, outras grandes conquistas da humanidade que foram consumadas na África são suprimidas ou tiveram sua “matriz de origem” transferida.
Marcondes, como homem que maneja o fogo no tempo e no espaço cênico, realiza um trabalho que se move entre o contemporâneo e o longínquo. O fogo, como natureza dominada, remete às celebrações festivas que envolvem corpo e alma humana em prece de agradecimento pelo calor divino.
É este fogo incendiário e protetor que cruza o Atlântico. Dos navios negreiros até aportar no Brasil contemporâneo, o elemento de luz e calor é simbolicamente transladado para reforçar os gestos, os ícones, ritmos e representações não-verbais que a tradição africana sustenta até hoje na arte, linguagem e no paladar dessa gente do Brasil. Tal trânsito resultou e resulta em diversas sínteses da matricial africana com as referências culturais ameríndias e europeias no/do Brasil. É chama contraditória que ora afugenta, ora aproxima matrizes culturais distintas para criar o novo. É elemento avassalador de confronto e calor de acolhimento. A contradição constante que funde passado e presente.
Atrito e movimento se completam em compassos soprados, a velocidade dos atos nessa dança transmite simultaneamente, a força e a fragilidade humanas perante a natureza. Além de sínteses culturais e étnicas é síntese entre natureza e cultura. O calor gritante das labaredas também é fogo que não se domina. É calor incontido e poderoso: conquistador do homem.
           

III CONCLADIN – 17 a 19 de maio de 2011
Intervenção coreográfica: “Dança do Fogo
Duração: 5 minutos
Direção: Roberto Marcondes
18/05/2011 - 13:50h
Entrada do SESC ARARAQUARA





Este espetáculo é parte integrante da Programação Cultural da III Conferência Internacional do Centro das Línguas e Culturas Africanas e da Diáspora Negra – III CONCLADIN. O solo, juntamente com a intervençãoPescador”, faz parte do trabalho desenvolvido pelo bailarino Roberto Marcondes quando integrou a Cia Liberdade de Teatro – Campinas, SP. Atualmente o bailarino apresenta tais células coreográficas no contexto dos debates sobre a questão étnica afro-brasileira. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Impressões: