Espetáculo: “Pescador ”
Por entre o emaranhado de cordas ,
conversam mãe e filho .
É de rede a cortina da passagem,
Foram me chamar.
As relações humanas e a delicadeza de seu trançar , desde os mais profundos questionamentos, dúvidas, anseios e a sutileza dos cuidados para com outro ser. Esse é o fio da conversa entre o Pescador e sua Mãe Yemanjá. Em noite de temporal, a luta do pescador é pela sobrevivência. Por meio deste embate emerge a viagem do homem por seus próprios medos e delírios .
No Brasil e na Umbanda, Yemanjá é a divindade do mar, também padroeira dos náufragos e mãe de todas as cabeças humanas. Como em “Dança do Fogo”, Roberto Marcondes é “Pescador” que representa o encontro humano com a água enquanto elemento da natureza. Transformada pela entidade sagrada de “mãe” e Yara, toma com o homem um diálogo sem palavras. A prece é contato do humano com o divino, daí a relação entre o mar, o náufrago e sua cabeça.
Natureza e cultura como elementos em amálgama, vida miscível na forma de trabalho emaranhado à subsistência na água e com a água. É a prece de quem trabalha no mar e convive com os seres que habitam seu plano. Todos estes elementos em rede fazem do “Pescador” ser metafórico que carrega no seu íntimo a mescla das tradições litorâneas da África com todas as outras que compõem o Brasil. É o Atlântico em fusão, costa a costa, mais uma vez.
Seria a rede um equivalente material ao homem em suas conjunturas ?
O sincretismo se mostra em diversos aspectos desse trabalho , desde a presença de Yemanjá, entidade representativa da união de religiões de matrizes africanas, da religião católica e de cultos indígenas. Figura mitológica da mulher em forma de sereia é aquela que embriaga o homem do mar seduzido por seu cantar e sua beleza.
Nesse diálogo entre mundos , o embate pela sobrevivência esbarra no transitar da própria vida e seus infortúnios . No rito transparece a proximidade entre natureza , humano e divino , tão presente nas religiões e expressões culturais de matriz africana em que o corpo é centro das transições .
III CONCLADIN – 17 a 19 de maio de 2011
Espetáculo: “Pescador”
Duração: 7 minutos
Com Roberto Marcondes
18/05/2011, quarta, 16:15h
Espaço Garimpo - SESC ARARAQUARA
Este espetáculo é parte integrante da Programação Cultural da III Conferência Internacional do Centro das Línguas e Culturas Africanas e da Diáspora Negra – III CONCLADIN. O solo, juntamente com a intervenção “Dança do Fogo” faz parte do trabalho desenvolvido pelo bailarino Roberto Marcondes quando integrou a Cia Liberdade de Teatro – Campinas, SP. Atualmente o bailarino apresenta tais células coreográficas no contexto dos debates sobre a questão étnica afro-brasileira.
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