sexta-feira, 6 de maio de 2011

Programação cultural III CONCLADIN


Espetáculo: “Pescador
Duração: 7 minutos
Direção: Roberto Marcondes.

Por entre o emaranhado de cordas,
conversam mãe e filho.
É de rede a cortina da passagem,
Foram me chamar.


As relações humanas e a delicadeza de seu trançar, desde os mais profundos questionamentos, dúvidas, anseios e a sutileza dos cuidados para com outro ser. Esse é o fio da conversa entre o Pescador e sua Mãe Yemanjá. Em noite de temporal, a luta do pescador é pela sobrevivência. Por meio deste embate emerge a viagem do homem por seus próprios medos e delírios.
No Brasil e na Umbanda, Yemanjá é a divindade do mar, também padroeira dos náufragos e mãe de todas as cabeças humanas. Como em “Dança do Fogo”, Roberto Marcondes é “Pescador” que representa o encontro humano com a água enquanto elemento da natureza. Transformada pela entidade sagrada de “mãe” e Yara, toma com o homem um diálogo sem palavras. A prece é contato do humano com o divino, daí a relação entre o mar, o náufrago e sua cabeça.
Natureza e cultura como elementos em amálgama, vida miscível na forma de trabalho emaranhado à subsistência na água e com a água. É a prece de quem trabalha no mar e convive com os seres que habitam seu plano. Todos estes elementos em rede fazem do “Pescador” ser metafórico que carrega no seu íntimo a mescla das tradições litorâneas da África com todas as outras que compõem o Brasil. É o Atlântico em fusão, costa a costa, mais uma vez.
Seria a rede um equivalente material ao homem em suas conjunturas?
O sincretismo se mostra em diversos aspectos desse trabalho, desde a presença de Yemanjá, entidade representativa da união de religiões de matrizes africanas, da religião católica e de cultos indígenas. Figura mitológica da mulher em forma de sereia é aquela que embriaga o homem do mar seduzido por seu cantar e sua beleza.
      O canto aqui é transe, embriaguês do rito, contato com o divino enaltecido e que enaltece. A encenação gestual e a voz íntima do corpo, aliada aos ritmos africanos dizem do culto à Janaína, mulher de profundos mistérios. É também o encontro entre o homem e a mulher mãe e esposa. Daí que a luta se veste de dança e o texto teatral se subverte ao texto corporal.
Nesse diálogo entre mundos, o embate pela sobrevivência esbarra no transitar da própria vida e seus infortúnios.  No rito transparece a proximidade entre natureza, humano e divino, tão presente nas religiões e expressões culturais de matriz africana em que o corpo é centro das transições.


III CONCLADIN – 17 a 19 de maio de 2011
Espetáculo: “Pescador”
Duração: 7 minutos
Com Roberto Marcondes
18/05/2011, quarta, 16:15h
Espaço Garimpo - SESC ARARAQUARA



Este espetáculo é parte integrante da Programação Cultural da III Conferência Internacional do Centro das Línguas e Culturas Africanas e da Diáspora Negra – III CONCLADIN. O solo, juntamente com a intervenção “Dança do Fogo” faz parte do trabalho desenvolvido pelo bailarino Roberto Marcondes quando integrou a Cia Liberdade de Teatro – Campinas, SP. Atualmente o bailarino apresenta tais células coreográficas no contexto dos debates sobre a questão étnica afro-brasileira. 

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